segunda-feira, 28 de junho de 2010

Rescaldo 12 Horas de Torres | 2º lugar categoria Solo

Quando tudo parecia a correr "mal", acabou por "acabar nada mal"...

No final de uma semana terrível de trabalho, sem tempo para me organizar, nem sequer para treinar no ultimo mês e muito menos descansar... e quando tudo já parecia correr normalmente, e no caminho para a prova a carrinha parte o Turbo e encostamos à berma... e mesmo quando tudo já parecia perdido e chegamos quase em cima da hora, com o horário para a ultima refeição quente ultrapassado em larga medida... após tudo isso, fui brindado com o 2º lugar no pódio e uma taça.
Nada mal...

Mas vamos ao relato que é o que interessa.

Lá montamos a nossa box junto à meta, um pouco antes de a cruzar, mesmo ao lado de percurso.
Tenda, mesa, comida, bebida, mecânica, tudo estava organizado e pronto para a grande noitada.
Ainda tivemos tempo para uma volta de reconhecimento pela pista, de dia.

Com o padock montado junto à lagoa de Torres, uma paisagem muito agradável e calmante, lá iniciamos a volta de reconhecimento.

Começava com uma recta junto a umas vinhas, e entravamos num troço empredado, logo por uma mini-rampa a quase 90graus de inclinação vertical. Daquelas que só se sobe de lanço. Após um zig-zag por meio de pedras e árvores, aparecia a primeira pequena subida, seguida por um troço de areia e mais nuns zig-zags pelo pinhal. Cruzamos a estrada e entramos numa outra zona agrícola. Um estradão irregular, seco, com pedra agarrada ao chão, um outro troço mais longo, mas plano, sem qualquer dificuldade técnica até entrarmos numa zona com muito arvoredo.

Sucediam-se os zig-zags por meio de campos e de árvores, zonas desbravadas de propósito para a prova, com um piso sempre demasiado irregular.
Percebi que apesar de muito pouco acumulado, e de muito pouco técnico, o percurso ia ser duro.
Entramos numa zona de alcatrão, boa para nos alimentarmos e hidratarmos durante a prova até entrar num longa recta por meio de vinhas, bastante rápida e a descer. Era o único local de descanso até ao momento.
Mais uns zig-zags rápidos, nova entrada em vinhedo e um troço por meio da aldeia, entre casas, muito estreito, onde um guiador de downhill não passa, dada a diminuta largura entre paredes.
Mais uma pequena e rápida descida e estavamos ao lado da lagoa até chegarmos à meta.

O percurso era fácil, sem qualquer dificuldade técnica, apenas umas covas fundas onde os mais distraídos poderiam treinar o OTB (over the bar). Nos 6,5 Km que cada volta tinha, a dificuldade residia num constante pedalar, rolante em apenas metade do percurso, a obrigar sempre à pedalada. Não haveria descanso algum. Também não havia iluminação artificial em quase troço algum, a obrigar sempre a ter a lanterna acesa.
A organização estava certa quando anunciou que era de nivel 2 tecnicamente e de nivel 4 fisicamente. Para mim era o ideal. Sou uma lástima tecnicamente.
Optei, muito acertadamente, por levar a Scalpel com regulações duras, típicas para XC, mas apesar de tudo, era uma suspensão total, com muito conforto.

22h...
Lá se fez o briefing, o alinhamento dos concorrentes e deu-se a partida.
Arrancamos todos como uns loucos furiosos como se tratasse uma prova XCO. A que propósito??? Que estupidez!!! Era uma prova de resistência.

O objectivo era a regularidade durante as 12horas. O Claudio, e eu, seguimos sempre na roda, um do outro, tipo comboio a trabalhar em equipa. Era o mais inteligente a fazer-se. Para além de uma cavaqueira amena e simples, o sono e o cansaço iriam ficar em segundo plano.

As 5 primeiras voltas andaram sempre nos 20', a mostrar a regularidade pretendida.
As seguintes subiram para os 21'. À 6ª volta o infortúnio bate à porta do Cláudio quando entramos num troço de areia e a roda da frente dele encosta à minha traseira. Ele cai e bate com o joelho numa pedra. Mas lá seguimos.
À 7ª volta o infortúnio, ainda não satisfeito, volta-lhe a bater à porta e quase a cruzar a meta ele volta a cair numa curva e rasga a canela toda num murete de betão. Faz-se a 1ª paragem da noite e após umas garfadas muito rápidas, segui sozinho para mais uma volta. No final dessa volta o Claudio já não lá estava e senti um alívio quando percebi que ele voltou à prova. Infelizmente foi por pouco tempo. Não aguentou as dores.

Entretanto, à oitava volta já estavamos a ocupar o 3º e 4º lugares.
Segui sozinho a mentalizar-me que teria mais 10 horas a pedalar a solo.
Mas era para isso mesmo que lá estava, sofrer a solo, como um cão sozinho na noite.

No final da 15ª volta ultrapasso um concorrente da meta, ele cola-se à minha traseira e começa a perguntar-se se estava satisfeito com a Scalpel, que também tem uma, mas que levou a Flash porque gostava muito dela, blá blá blá... Sabia bem voltar a ter alguém para conversar. Entretanto confessou-se o vencedor na edição do ano passado e que é treinado pelo Tiago Aragão. Também lhe disse que ele tinha sido meu treinador, etc, etc, etc. Foi a 16ª volta, iamos em conjunto e a falar. Às tantas pergunto para trás: mas quantas voltas já deste? Ele responde: 15... - 15?!!!! Pensei eu. Neste momento vou em 1.º lugar!!! Será?

Calei-me, cheio de ronha e lá seguimos pela 16ª volta juntos.
Mais à frente ele arranca e deixei-o ir, para não o espantar.
Estaria eu em 2º lugar, nesse momento? A passagem na meta esclareceu tudo. O Cláudio lá estava, a controlar as posições e diz-me que ia em 2º, com mais 2 voltas do que o 3º.
A partir dali teria de gerir muito bem a prova. Não havia tempo a perder com paragens. Todos os segundos seriam preciosos. O 1º classificado seguia mesmo ali à minha frente. A escassos segundos, ou minutos. Ele é mais jovem, mais leve, mais bem treinado. Iria dar-me muita luta.

As voltas sucediam-se e o jogo do gato e do rato também. Eu sabia como estava classificado, mas ele também. Para mim era a 1ª prova do gênero, para ele não.
Restava-me fazer uma boa gestão do esforço, uma boa gestão da alimentação e da hidratação. Essa era a melhor parte, sentia que essa parte do plano estava perfeita. E esteve mesmo.

Mesmo assim surgiram as normais perguntas: "o que é que estou aqui a fazer sozinho no mato, numa escuridão infernal?", "se fico sem luz ou se caio o que é que faço?", "o Cláudio já parou, porque é que não faço o mesmo?", enfim... perguntas de sofrimento.

Perto das 6h da manhã, em pleno mato, apaga-se a lanterna por falta de bateria. A segunda bateria que estava a usar estava mal carregada e não durou as espectáveis 6horas.
Lá fiz cerca de 3km em pleno breu e numa passagem rápida lá substitui a bateria. Na volta seguinte amanheceu e não precisei mais de luzes. Foi a única coisa que me correu mal. Perdi preciosos minutos com a falta de luz e com uma substituição de bateria não programada. O tempo dessa volta passou para os 28'. A mais longa de todas.

A manhã lá foi correndo e as posições do pódio mantiveram-se até ao final.

À 30ª volta sabia que não me adiantava fazer mais uma, mas estava ali para lutar até ao fim, lutar até cair, e como nunca se sabe o futuro, há que arriscar.
Acabei a 31ª volta, 2 minutos após as 12horas de prova.
Olhei para o ecrãn onde figuravam as classificações e lá estava o meu nome, em 2º lugar.
Foi uma satisfação grande. O meu contributo para a equipa e para os patrocinadores estava feito com muito sofrimento, muita luta, mas muita honra, acima de tudo.

Sinto que fiz uma prova quase perfeita. A única coisa a falhar foi uma vida mais curta de uma bateria, mal carregada, a fazer-me perder cerca de 5 minutos. Mas é assim mesmo.

No final, tempo para o almoço, com uma fabulosa sopa de feijão verde, pão regional delicioso, umas tiras de porco no espeto e muita coca-cola fresquinha.

Lá chamaram o meu nome para receber a taça e já só sonhava com a minha cama.
Deitei-me às 15h e dormi cerca de 19horas seguidas :-)

Dados sobre a prestação:
Distância percorrida: 198Km;
Acumulado: 2.000m;
Média: 17,3Km/h;
N.º de voltas: 31;
Posição ao fim de 7 voltas: 5º;
Posição ao fim de 15 voltas: 1º;
Posição ao fim de 16 voltas: 2º;
Posição até ao final da prova: 2º.


Notas importantes:
Lanterna - usei uma Stinger de 950 Lumens, sempre acesa. Deu-me sempre uma iluminação mais do que necessária sem qualquer dificuldade para vislumbrar o terreno (apenas ligada na posição 2, que é metade da capacidade máxima da lanterna), mesmo a alta velocidade e com muito pó no ar. Fabulosa!!! Se precisarem de mais esclarecimentos peçam-me. É ao nivel de qualquer Lupine topo de gama e a metade do preço.

Pulseira Powerbalance - o meu amigo José Silva (Equipa Rocky Mountain Portugal) disse-me que deixou de ter caimbras desde que começou a usar a pulseira de borracha com o famoso holograma com minerais, mais conhecida por pulseira do equilibrio. Em boa verdade, em 11h51' a pedalar, não tive uma única caimbra, nem sequer qualquer indício. Também é verdade que ao fim de cerca de 4horas de exercício intenso começo a ter esses problemas. Também é verdade que me senti desidratado durante a prova, e por muito que se beba, o rácio entre transpiração e velocidade de absorção de líquidos nunca nos é favorável, e muito menos ao fim de 12horas. Havia pequenas subidas a obrigarem a grande esforço muscular, de elevada intensidade. Nunca usei o 22. Fiz metade de cada volta de telega aviada, mesmo até ao final das 31 voltas.
Não tive uma única caimbra... o que foi diferente de todas as outras vezes? Usei uma pulseira Powerbalance! Não faz milagres, mas fez uma diferença.

Punhos Esigrips - substitui os punhos Sram que são "servidos" nos grishifts por punhos da Esigrips.
Foi uma das melhores pequenas alterações que alguma vez fiz numa bike. Baixo preço, grande valor. Como os punhos são muito longos, utilizei apenas um, cortado a meio, para cada punho da bike. Oferecem um conforto muito grande, sem serem moles. Não rodam, não escorregam nas mãos e não senti dormência. São verdes alface, feios mas eu gosto!...

Alimentação - isso é segredo, não conto a ninguém!!! ;-)

Bike - levei a C'dale Scalpel, escolha mais do que acertada, mesmo que no final tenha desalinhado uma pista da lefty o que fará com que visite a Gondobike para fazer o devido reset.

Equipamento - levei calção e jersey de verão da Equipa, confeccionados pela Cofides. Não tive uma única maleita entre-pernas. A carneira é fabulosa e a licra, sempre justa, nunca saiu do sítio e nunca a causar desconforto. Equipamento fabuloso. Levei uma camisola interior da Nike e manguitos finos. Os sapatos de sola bastante rígida da Scott foram fabulosos, sem necessidade de reapertar o sistema BOA.

Em breve colocarei as normais fotos e os links para rescaldos e mais dados.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

12 Horas de Torres | Anadia



Irá realizar-se no próximo de 25, sábado, a prova de resistência nocturna em BTT. Irá realizar-se em Torres, Anadia e tem a chancela do Grupo Desportivo de Torres. Terá a duração de 12horas. Inicia-se às 22h de Sábado e acaba às 10h de Domingo.
O percurso terá uma distância de 9,5 Km, por cada volta.
Contará com classificações em diversas categorias, entre as quais a solo, equipas de 2 e de 4 elementos.

Irei correr a solo, bem como o meu companheiro de equipa, o Cláudio Costa.
Para mim será o prazer de pedalar sem parar durante muitas horas, para o Cláudio será uma prova de preparação para as 24horas da Junqueira, que se realizará já daqui a duas semanas.
Não há estratégia definida, apenas rodar ao máximo de voltas dentro do limite físico para o fazer. Boa alimentação e boa hidratação e logo se verá como corre.

Em breve deixarei o relato.

Aproveito para me desculpar por não estar a actualizar o blog da forma como muitos gostariam de ver, mas o trabalho limita-nos a vida. O tempo não chega para treinar nem para me divertir. Nesse sentido lamento e peço desculpa pelo sucedido.