quarta-feira, 15 de setembro de 2010

24 horas BTT de Famalicão

A tão esperada prova para maluquinhos lá chegou... as 24 horas às voltinhas no monte!!!! Em Famalicão, claro.
A semana que antecipava os dias de prova foi um pouco afastada da bike, também já não havia grande treino a fazer e nesse sentido lá fui pedalando em algumas aulas de cycle para calejar o VO2 max.
No dia anterior lá veio a má notícia que o resto da malta da minha equipa não ia estar toda para completar a trupe de 6 gajos a correrem na categoria de homens, 6 elementos. A presença deles era fundamental para o apoio logístico e moral.
Mas no sábado de manhã lá me dirigi para Famalicão com o Zé Manel, que me iria dar o apoio, até chegarem o Cláudio e o Paulinho.
Esses 3 fariam a equipa de 6... batem mal...

Ao meio-dia em ponto, mais minuto menos minuto, hehehe, lá toca a gaita e a malta a solo arranca como se fosse fazer um regional de XC na terra das batatas e das cebolas, a todo o vapor, como se 24horas fossem passar em 24 minutos. Eu tb sprintei logo ao arranque, nem sei bem porquê!!! Mas soube bem.

Passados 2km por estrada de aldeia voltamos a entrar no recinto da prova, pela porta das traseiras, situação que se iria prolongar até ao fim de 24horas, ao fim de cada voltinha de 8,6km.
A malta estendeu-se por um pelotão vasto, uns com mais e outros com menos pressa. Rapidamente perdi a noção do lugar que ocupava. Mas também não era importante.
Segui a bom ritmo pela sucessão de voltas, a uma média de 30 minutos por volta, tendo sido a minha mais rápida com 28'.
De 3 em 3 horas lá fazia uma paragem às boxes para comer uma massa e bebericar uns golos de coca-cola, que sabia mesmo muito bem.
Por volta das 4h da tarde tive o prazer de ter regularmente a companhia de um dos meus colegas da equipa de 6. Cada um dava umas 2 voltas e comigo e trocavam de parceiro. Soube bem essa guarda de honra a dar apoio moral.
À 7ª volta o Rui Miranda chega-se a mim e fazemos um bom tempo juntos e trocamos algumas impressões sobre a concorrência e em especial sobre o Abel, que já nos tinha dobrado uma vez e preparava-se para o fazer novamente.
Dobramos o Francelino precisamente nessa mesma volta e lá seguimos juntos.
A média mantinha-se sempre a mesma até perto das 23horas, altura em que estava classificado em 3º lugar. Perdi o 2º assim que deixei o Rui seguir para a minha frente. Mas também não era muito importante, estava ali para me correr bem a prova mas não queria sair magoado nem enjoado deste tipo de provas. Além disso uma de 24h a solo "mata" um homem e demora semanas a recuperação. Não me posso dar a esse luxo dado que daqui a pouco mais de uma semana tenho o Geo-Raid de Montalegre e queremos subir, ou pelo menos manter, o 19º lugar da geral da competição, e trazer o jersey de finisher, obviamente.
Entre as 23h e as 2h da manhã mudei de tática e parei sempre ao fim de cada duas voltas. Sabia bem realizar pequenos objectivos de uma hora cada.
Entretanto a pista começava a ficar massacrada com milhares de passagens de rodas pitonadas e o pó colava-se ao corpo de uma forma muito gordurosa.
Lá se foram sucedendo as voltas, umas a seguir às outras, com subidas, descidas, trilhos, single-tracks, degraus, regos, descidas rápidas, pó, escuridão, etc.
Também tive a oportunidade, nada interessante de ver a Ana Rocha a ser assistida na pista, logo a seguir à queda que teve na zona mais técnica do percurso. Uma infelicidade...

Às 2h da manhã foi a altura ideal para partir as trombas a meia pizza familiar e quase um litro de coca-cola. Era a 3ª fase da prova... a descompressão. Tinha feito 11h com tudo bem atarrachado, depois mais 3h com paragens de hora a hora, era altura de curtir o padock, os companheiros, o ambiente e dormir um pouco. E assim o fiz, deitei-me no chão todo vestido, e com capacete. Só tirei as luvas. Pernas ao alto e toca a ressonar no chão. Como o frio fazia-se sentir, meti um plástico por cima de mim e enrolei-me todo no chão e dormi até às 7h50', altamente, que rico sono.

Levantei-me, fui lavar a cara e ver o ecrãn das classificações. Estava agora em 6º lugar com 25 voltas feitas. Comi qualquer coisa, meti-me na bike e segui para a 4ª parte da prova... a etapa final de voltas no máximo dos máximos. Durante a manhã fui dando as voltas que consegui, quase à mesma média de 30' cada uma e às 11h45' estava com 31 voltas. Deveria ter dado mais uma e teria agarrado o 5º lugar mas a forma demorada com que as classificações eram actualizadas levou-me a essa má gestão. Mas, na realidade, também não era uma melhoria significativa de nada.

Sensações sobre a organização...
Tudo pareceu-me correr com um bom aspecto geral, bem organizado, com um percurso bonito, um pouco duro para se andar ali a pedalar tantas horas. Poderia ter sido limpo em algumas zonas, porque haviam pequenas lixeiras e isso é pouco interessante. As zonas mais técnicas não eram nenhuma desgraça e faziam-se bem e eram bem divertidas.
O único aspecto negativo foi mesmo a forma demorada na actualização de posições.

Sobre a minha prova...
Fiz, como já disse, em quatro etapas. Acho que é importante criar patamares de actuação para quebrar a monotonia e o sofrimento de tantas horas a pedalar. Longe de ter feito uma prova perfeita e sem um resultado de destaque, sinto que aprendi muito sobre a dureza deste tipo de prova, alguma coisa sobre a concorrência, e algo sobre gestão de emoções. Em altura alguma entrei em sofrimento, em agonia, nunca me senti enjoado ou com vontade de desistir. Acima de tudo diverti-me muito, muito mesmo.
Dei 31 voltas, que são quase 300km, um acumulado de mais de 5.000m, e 11.000 kcal gastas em 17 a pedalar. Como podem ver, estive longe das 24h. E em boa verdade bastava-me ter pedalado mais uma hora e meia e teria assegurado o 3º lugar sem grande esforço. A pedalar as 24horas poderia ter feito concorrência ao Rui e, eventualmente, trabalhar um 2º lugar. Mas tudo a seu tempo.

Sobre a minha Scalpel...
Fabulosa, sem qualquer problema na lefty ou outro problema mecânico. Levei regulações para XC que acabaram por ser um pouco duras mas ajudaram na eficiência.

Sobre empenos ou dores...
As pernas ficaram muito bem, com alguns focos de dor nos quadricepes e gêmeos, mas nada de especial. As mãos ficaram doridas e para não falar nos arredores dos "intestículos" que ficaram inchados. Mas fiquei tão bem que no dia seguinte fui pedalar 3 horas de cycle a todo o vapor.

Sobre futuras provas a Solo...
Há que digerir tudo muito bem, perceber a mecânica de tudo isto, ver os erros e adicionar melhorias, porque é um formato de prova muito interessante e que sinto que poderei disputar os pódios sem grandes dramas.

Site da prova:
www.24horasbttfamalicao.com

Site dos organizadores e links para centenas de fotos:
www.amigosdopedal-famalicao.com

Fotos Paulo Ministro:
www.piksbox.com

Notícia internacional:
www.demotix.com

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